Na tela do poeta, as peças se movimentam nos contornos, e dobram-se à luz varada pelo toque úmido dos pincéis. Os poros da pintura, as palavras, na poesia de Aguinaldo Gonçalves, se tramam como serpentes, procurando, na memória da tela, os degraus para o esquecimento, essa viagem cuja poesia alcança os mais sutis laivos do desejo. Assim como um Daimon, a poesia adentra o corpo do sujeito: “Um sol emergiu no alto de minha cabeça / E foi penetrando para dentro de meu corpo”; “Tornei-me sol em plena meia-noite”; “Um sol rasante e sonolento / Dominou meu corpo inteiro”. O que é o corpo senão essa esfera tardia do esquecimento? Como recompor das sobras e dos escombros o corpo que se percebe, agora, um prisma?
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